Quarta-feira, 01.10.14

A Europa que os alemães querem só dá recessão

A Alemanha continua a desejar mais austeridade para a Europa, mesmo com a crise a bater-lhe à porta.

As principais economias do euro - Alemanha, França e Itália - estão ou em recessão, ou em anemia.

O Sul da Europa continua a patinar, com muito desemprego e muita dívida em Portugal, Espanha e Grécia.

A Irlanda melhorou apenas ligeiramente, e as coisas também não vão especialmente bem na Polónia ou na Holanda.

 

Quatro anos de intensa austeridade, imposta pela Alemanha da Sra Merkel, deram nisto: uma Europa em profunda crise.

As tensões políticas, como seria de esperar, multiplicam-se.

Os extremismos crescem em França, em Itália, na Grécia, e na própria Alemanha começam também a nascer.

Porém, os alemães não aprendem, nem querem abandonar a sua postura dura e teimosa.

 

Mesmo quando Draghi defende uma expansão da procura, com baixas de impostos e investimentos públicos, a Alemanha diz não.

Não quer nada, e ataca as intenções de Draghi de expandir a oferta monetária, baixando os juros e injectando dinheiro na economia.

Mesmo com a Europa atacada pelo desemprego, pela recessão, pela deflação e pela dívida, a Alemanha tudo rejeita e tudo sabota.

Até quando continuará esta cegueira?

 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:39 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Segunda-feira, 29.09.14

Costa pode ser o Obama lusitano

Como eu já esperava, António Costa venceu folgadamente contra António José Seguro.

Por mais que o outro o atacasse, poucas dúvidas havia que entre os dois, ele era o melhor.

E agora, com o PS a seus pés, Costa tem de pensar em como ganhar o resto do país.

A sua personalidade tem várias vantagens, a principais das quais é que ele alegra a esquerda sem assustar a direita.

 

Conheço muita gente de direita que tem simpatia, admiração e respeito por António Costa, e que admite mesmo votar nele.

A direita desiludida com Passos e Portas poderá, talvez pela primeira vez, votar no PS, pois a fúria contra o Governo é imensa.

À esquerda, embora o PCP tenha vindo a crescer, o desmembramento do Bloco poderá ser também um aliado de Costa.

Louçã ainda empolgava muitos, mas isso não se passa com a actual liderança bicéfala, de Semedo e Martins.

 

Portanto, Costa pode entusiasmar os que sempre votaram PS, mais aqueles que votaram no Bloco ou noutros fenómenos de esquerda, como Marinho e Pinto e o Livre, e ainda pode ganhar votos ao centro e mesmo à direita.

Como é que isso se consegue?

Enganam-se os que pensam que é preciso ter muitas ideias e fazer muitas promessas.

 

Obama provou que mais importante que políticas concretas é mudar o estado de espírito das pessoas.

Contra a austeridade brutal, a esperança.

Contra a recessão geral, a crença que há um futuro melhor para os portugueses

O "yes, we can" de Obama pode ser adaptado para Portugal.

 

Basta querer, basta falar diferente, basta acreditar.

Tal como George W. Bush na América, Passos e Portas cometeram tantos erros e estragaram tanto o país que a mudança é muito desejada pela grande maioria dos portugueses.

Daqui até às eleições, a única dúvida é saber quantos serão. 

publicado por Domingos Amaral às 09:57 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Sexta-feira, 26.09.14

Tecnoforma: a montanha pariu um rato.

Em primeiro lugar, um lembrete.

Quem me lê neste blog, sabe perfeitamente que considero Passos Coelho uma tremenda desilusão, e que acho este Governo péssimo.

Estou em total desacordo com a estratégia de austeridade brutal que Passos escolheu, e posso dizer com absoluta certeza que não votarei nele, nem no PSD ou no CDS se forem separados, com estes líderes.

 

Dito isto, sempre me pareceu prematura e demasiado inflamada a excitação que esta semana se apoderou do país por causa do "caso Tecnoforma".

Como o primeiro-ministro acabou de esclarecer, nunca recebeu salário dessa empresa enquanto foi deputado.

Apenas recebeu despesas de representação quando fez duas viagens ao serviço de uma ONG.

Lamento desiludir os que achavam que Passos já estava aniquilado, mas tal não é verdade.

 

Não houve pagamentos de salários enquanto era deputado, nem Passos mentiu quando declarou, para receber um subsídio, que estava em exclusividade.

Portanto, por aí não há caso nenhum.

Resta saber se é eticamente reprovável colaborar com uma ONG enquanto se é deputado, e ter duas viagens pagas por essa ONG.

Talvez não seja inteligente, mas dificilmente se pode dizer que é caso para a demissão de um primeiro-ministro!

 

Portanto, acho que o mais grave que Passos fez, o seu principal erro, foi não ter matado este assunto logo no primeiro dia.

Ao dizer que não se lembrava, ao deixar passar uns dias, ao dizer que "tirava as consequências", Passos foi deixando o suspense crescer, e isso foi um erro grave.

Nestas coisas, não se pode deixar dúvidas, e só a sua existência já fere a reputação de um homem que tanta moral pregou aos portugueses.

 

Passos ficou pois beliscado, chamuscado mesmo, com esta nódoazinha no seu currículo.

De hoje em diante, os seus inimigos e detratores vão lembrar sempre o "não me lembro", as viagens da ONG, coisas que eram perfeitamente evitáveis se Passos tivesse esclarecido tudo imediatamente, logo no primeiro dia.

Mas, demitir-se por causa disto?

Caramba, tenham calma. Façam o "ice bucket challenge", pois o homem ainda vai durar mais uns tempos.

 

publicado por Domingos Amaral às 11:13 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 25.09.14

O Estado Islâmico é o filho bastardo de Bush e Rumsfeld

Há mais de dez anos, Bush invadiu o Iraque, ainda se lembram?

Supostamente, Saddam tinha armas de destruição e financiava o terrorismo.

Traumatizados com o 11 de Setembro, os conservadores americanos atacaram Bagdad.

Na Europa, muitos os apoiaram, incluindo Barroso, Portas, toda a direita europeia, e até alguma esquerda, representada por Tony Blair.

Quem se metesse contra eles, era logo apelidado de perigoso esquerdista ou mesmo comunista.

 

Mais de uma década depois, está bom de ver quem tinha razão.

Saddam foi preso e morto, mas o Iraque foi lançado num caos que nunca amainou.

A ocupação americana, que era para ser amigável, transformou-se numa guerra aberta.

Sunitas, xiitas e curdos, nunca foram capazes de se entender e milhares morreram todos os anos em actos de terrorismo ou em combates.

A "mudança de regime", inspiradora de Bush e Rumsfeld, foi a desgraça do Iraque, pois substituiu-se uma tirania por uma anarquia.

 

Mais de uma década depois, a balbúrdia não pára, e um novo monstro se gerou.

O chamado "Estado Islâmico" é um filho bastardo de Bush e Rumsfled.

Medrou e cresceu no atoleiro gerado por eles, e mesmo com alguns apoios americanos de então para cá.

E claro, agora o monstro ganhou vida própria e não vai parar.

Quem semeia ventos, colhe tempestades.

 

Os neo-conservadores e todos os seus apoiantes esqueceram que meter a mão num ninho de vespas dá sempre mau resultado.

E esqueceram também a História daquela região.

As lutas são permanentes, há milhares de anos. Mudam as armas e as pessoas, mas os motivos permanecem.

O chamado "Estado Islâmico", e o seu "califado", é o herdeiro de uma longa lista de facínoras que sempre povoou aquelas regiões.

Mil anos passaram, e mais mil vão passar, e será sempre assim.

 

Infelizmente, não há muito que se possa fazer.

Mas, mais vale bombardear, como faz Obama, do que invadir, como fez Bush. 

Embora isso não vá parar a onda de decapitações, nem o fanatismo dos novos guerreiros, que para lá correm.

A "guerra santa" não nasceu agora, sempre existiu, desde Poitiers, desde Zalaca, desde Lisboa, desde Saladino ou Afonso Henriques.

Quem pensar que isto vai parar um dia, engana-se. Não vai. Só as armas mudam, a guerra é sempre a mesma.

publicado por Domingos Amaral às 09:57 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quarta-feira, 24.09.14

Quem quer para primeiro-ministro: Costa, Seguro ou Passos?

O último debate entre Seguro e Costa, que aconteceu ontem na RTP, foi o mais divertido.

Parecia um combate de boxe, onde Costa mostrou finalmente que sabia meter a mão na anca e dar "uppercuts".

Já Seguro foi fiel a si mesmo, e mostrou mais uma vez que só sabe viver no registo "tu traíste-me".

Se no primeiro debate fora ele o vencedor, para perder claramente no segundo, neste terceiro conseguiu um empate.

 

Contudo, Seguro dá a ideia de estar sempre tenso, sempre nervoso, sempre excitado em demasia.

Mesmo quando é demasiado pachorrento, Costa consegue transmitir uma serenidade que escapa totalmente a Seguro.

E, é evidente para todos, a questão relevante foi a colocada por Costa.

Quem querem os portugueses para primeiro-ministro: Passos, Seguro ou Costa?

 

No domingo, será a primeira volta desta resposta, e os militantes e simpatizantes do PS terão de dizer o que pensam.

Pela minha parte, parece-me evidente que Costa tem mais experiência, capacidade de liderança e habilidade política.

Seguro nunca foi ministro, nunca foi presidente da Câmara, e dá pouca confiança às pessoas para liderar um governo.

Ainda por cima, deu demasiada relevância às traições de Costa, como se a política não fosse, há mais de mil anos, sempre assim.

 

Parece-me pois que Costa acertou nos gráficos da sondagem que mostrou ontem à noite.

Entre ele e Passos, as pessoas preferem-no a ele; e entre Seguro e Passos, as pessoas preferem Passos.

É esse o drama de Seguro, que ele nunca conseguiu ultrapassar.

Mesmo com um Governo que massacrou os portugueses, e mesmo com um primeiro-ministro fraco, Seguro não inspira muita gente.

É o elo mais fraco dos três, e por isso deverá perder no Domingo.

publicado por Domingos Amaral às 09:53 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quinta-feira, 18.09.14

A Escócia já chegou à Madeira?

Um dos danos colaterais do referendo na Escócia é a animação que para aí vai nos locais que também desejam independência.

Na Catalunha, no País Basco, em certas regiões da Bélgica, já todos andam animados com a possibilidade de seguirem a Escócia.

E, como não podia deixar de ser, o mesmo se passa na Madeira.

 

Sim, é verdade, a Escócia já chegou à Madeira!

Na cara de Alberto João Jardim há já um sorrisinho tipo "eu não vos dizia que isto um dia mudava?" 

Ainda por cima, se a Escócia tem whisky, a Madeira tem o seu vinho!

Não tem petróleo, nem tantos milhões de pessoas, mas tem o Cristiano Ronaldo, que dá para uma bela campanha de marketing!

 

Se no referendo escocês vencer o Sim, preparem-se pois para uma sessão de fogos de artifício no Funchal.

Será, aposto, quase tão forte como as das Passagens do Ano!

Jardim sairá à rua, em pelota se for preciso, para festejar a grande possibilidade de, finalmente, a Madeira ser independente!

 

O pior é se isto pega.

E porque não a Galiza, o Alentejo, o Algarve, a Andaluzia, o Languedoc, a Bretanha, a Baviera?

Sim, porque não fragmentar todas as nações, uma a uma, em pequenas cidades estados?

Porque não um feudalismo digital com páginas no Facebook e conta no Twitter?

Como dizia Karl Popper há muitos anos, o único grave problema do princípio da autodeterminação é que é autoagravante, nunca mais se pára.

Se virmos bem, há razões para tudo, até para Algés se separar definitivamente de Miraflores... 

publicado por Domingos Amaral às 12:34 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 09.09.14

Exportar-nos para fora da recessão não está a resultar

Ainda se lembram da forma gloriosa como o Governo apresentava os números positivos da balança comercial portuguesa?

Aqui há ano e meio, estávamos a exportar mais que a importar, coisa nunca antes vista em 50 anos!

Só o Salazar tinha conseguido tal coisa, dizia a propaganda governamental, de Gaspar, Passos e Portas.

Infelizmente, algum tempo depois, os indicadores voltaram a piorar, as exportações foram perdendo gáz, as importações cresceram, e lá voltou o deficit comercial.

Ou seja, o maravilhoso ajustamento que Gaspar dizia ter conseguido, acabando com o deficit comercial, não durou nada.

E o segundo ajustamento, que Gaspar e Passos também diziam ter conseguido, o do deficit orçamental, lá vai morrendo também.

É natural: não se mudam 300 anos de história económica de um dia para outro.

Apesar dos tontos acharem que sim, a realidade do mundo não muda só porque eles acham que sim.

 

Quase quatro anos depois, está à vista que a linha austeritária do Governo, que quis corrigir dois deficits ao mesmo tempo, para reequilibrar o país, não conseguiu atingir esses objetivos, e só deixou um rasto de recessão, desemprego, e ainda mais dívida pública.

Os pequenos indicadores positivos que melhoraram são isso mesmo, pequenos.

É duro, eu sei, mas a verdade é que temos hoje mais desemprego, crescimento menor, impostos mais altos e salários mais baixos do que há quatro anos, e com uma dívida pública muito maior.

A austeridade expansionista, que Passos e Gaspar defendiam que ia salvar o país depois de uma dieta intensa, nunca passou de austeridade, pois de expansionista não teve nada.

 

Como Mário Draghi veio dizer, era falsa e errada a convicção de que as taxas de juro da dívida pública estavam a subir porque os governos gastavam demais.

Entre 2009 e 2012, as taxas de juro da dívida subiram porque os investidores estavam em pânico com a perspectiva do euro acabar.

Não foi a austeridade brutal que recuperou a confiança, foi a intervenção do BCE, e as palavras de Draghi desde o verão de 2012.

A austeridade não trouxe qualquer melhoria, pelo contrário, só piorou as coisas, deixando um colossal rasto de desperdício e recessão.

Agora, como Draghi também disse, é tempo de estimular as economias, baixar impostos, e outras coisas assim.

Ou seja, é tempo de mudar de políticas, e abandonar em definitivo a austeridade desmiolada.

 

Contudo, não será fácil que isso aconteça com Passos e Maria Luís.

Enquanto na fustigada Grécia já se anunciam fortes baixas dos impostos, por cá continua a conversa da treta, de que não há "folga orçamental", etc, etc.

Parece-me que este Governo não tem qualquer capacidade já para efectuar uma mudança de políticas de 180 graus.

Está amarrado às suas ideias, e com elas irá para o fundo, sem salvação possível.

Para que as políticas mudem, não parece haver outra hipótese a não ser mudar de Governo.

 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:50 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Segunda-feira, 01.09.14

Ucrânia: que tal partir ao meio, metade para Merkel, metade para Putin?

Já aqui o tinha escrito e volto a escrever: a única solução para a Ucrânia parece ser a divisão do país em dois.

A parte russa, que Putin invadiu com soldados seus mascarados de clandestinos, poderá ser a Ucrânia de Leste, ou Nova Rússia, como Putin prefere.

Terá capital em Donetsk, e ligação ao mar, fazendo fronteira com a Crimeia recentemente anexada.

Quanto à parte ocidental, que deseja juntar-se à Europa, poderá ter capital em Kiev, e chamar-se Ucrânia do Oeste, ou simplesmente Ucrânia.

 

Na verdade, essa separação será apenas a confirmação histórica de uma divisão que durou séculos, entre uma zona de leste, associada à Rússia, e uma zona de Oeste, associada à Polónia.

A Ucrânia, tal como a conhecemos depois da queda da URSS, é uma entidade com pouco significado histórico, e até cultural, pois divide-se entre um leste onde a maioria do povo é russo, e um oeste onde a maioria é ucraniana.

 

Naturalmente, Putin sabe isso, conhece a história da região melhor que os europeus ou americanos, e sabe também que não pode deixar a parte leste do país deslocar-se para uma associação com a Europa germânica.

Portanto, melhor seria que todos, europeus e americanos, aceitassem o destino da história, cedendo a Putin mais um bocado de território para evitar uma destruição ainda maior na região, e a morte de muitos inocentes.

E quem quiser fazer comparações com Hitler devia pensar um pouco melhor, pois nada é igual a 1938 ou 39, o mundo mudou muito.

 

O que as pessoas se têm de perguntar é isto: quem está disposto a morrer por Donetsk?

Não me parece que, nem na América, nem na Europa, existam muitos a querer ir para a guerra.

Sanções, sim, e devem aumentar, mas guerra? Isso ninguém deseja.

publicado por Domingos Amaral às 17:26 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Quinta-feira, 07.08.14

O ebola da bolsa

Não há nada que os mercados financeiros temam tanto como a desconfiança.

A desconfiança enche as pessoas de receios, temores de perda do seu dinheiro.

Daí ao medo é um pulo, e ao pânico um saltinho.

A desconfiança é o ebola das bolsas, um vírus que parece incontrolável e para o qual ainda não há remédio.

É esse ebola que parece pairar sobre a bolsa portuguesa.

Ontem caiu tudo, aos trambolhões, e até os juros da dívida subiram.

A bolsa ficou vermelha. E nos bancos e no Governo, o sinal voltou ao laranja.

 

Talvez seja um exagero o que se está a passar.

Roosevelt disse um dia que a única coisa de que devíamos ter medo era do próprio medo.

Estava a falar de guerra, mas podia estar a falar dos mercados financeiros.

Ou de Portugal, nos dias que correm.

Há medo, e esse medo, a sua existência, dá-nos mais medo, e andamos ali às voltas, presos numa espiral de aflição.

 

Mas convém respirar fundo, contar até dez, acreditar que há nisto uma dose de exagero.

As bolsas, muitas vezes, comportam-se como rebanhos de carneirada.

Para onde vai um, vão todos, e ninguém sabe bem porquê, nem quem é o líder.

E quando assim é, é difícil encontrar uma explicação racional para o que está a acontecer.

 

A solução "banco bom" e "banco mau" tem virtualidades.

Protege os depositantes, os clientes normais, os activos bons do BES.

Porém, tem dois pontos fracos.

Primeiro, penaliza muito os accionistas, e isso gera desconfiança na bolsa portuguesa.

Se os accionistas podem perder tudo, para quê ser accionista, sobretudo de bancos com problemas?

Este medo gera uma pressão de venda, pois quando o risco de perda sobe, todos querem evitá-lo.

É verdade, mas também é verdade que, na sexta-feira passada, as acções do BES já só valiam 12 cêntimos, quase nada.

A maior perda já tinha acontecido.

 

O segundo ponto fraco da decisão é a ideia de que serão os outros bancos a ter de resolver o problema do Novo Banco.

Se não for bem privatizado, a um bom preço, são os outros bancos que se chegam à frente e pagam a factura.

Parece injusto, e até um bocado absurdo.

Então são os bancos que nada tiveram a ver com o caso a ter de suportar o imbróglio?

Como, se também eles estão a sair da situação difícil em que estiveram nos últimos anos?

Foi isso que ontem penalizou, e muito, o BCP, o BPI e o Banif.

 

Também aqui, há que colocar um pouco de gelo na ferida.

Em primeiro lugar, esses não são os únicos bancos a actuar em Portugal.

Existem a Caixa, o Santander, o BBVA, o Deustche, o BIG, e muitas outras instituições financeiras.

O fundo de Resolução inclui todos os bancos, não apenas o BCP, o BPI e o Banif.

E pode até dar-se o caso de os futuros compradores nem serem bancos que hoje actuam em Portugal.

 

Além disso, é apressado concluir que isto se vai passar depressa.

O mais provável é a reprivatização do Novo Banco demorar algum tempo.

Poderá ser feita em parcelas, mas ninguém acredita que seja rápida.

Dois anos, menos que isso?

Talvez sim, talvez não.

Seja como for, é cedo para penalizar os outros por algo que não se sabe quando, ou como, vai acontecer. 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:25 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Segunda-feira, 04.08.14

BES: finalmente alguém tomou juízo...

Nada é mais importante no sistema bancário do que a confiança das pessoas.

Quando ela se perde ou está em risco, tudo se desestabiliza e o pior pode acontecer.

Era isso a que Portugal estava assistir nos últimos dois meses.

A crise no Grupo Espírito Santo estava a contaminar o sistema financeiro e bancário português, e cada dia que passava as coisas ficavam piores.

A bolsa caía, os outros bancos começavam a ser arrastados para a lama, e o receio estava instalar-se.

Qualquer pessoa que conheça as histórias de crises financeiras, por todo o mundo, sentia que Portugal estava já num sarilho.

Havia que actuar, e depressa, para evitar a derrocada de um país que ainda está frágil.

 

Infelizmente, Governo e Banco de Portugal andaram sempre a correr atrás do prejuízo.

Só na semana passada aceitaram aquilo que era evidente, que o BES estava perdido, e que o sistema estava minado.

Finalmente, o supervisor acordou, e o Estado chegou-se à frente para parar o sarilho do BES.

Depois de meses e meses de erros e trapalhadas, declarações tontas e descobertas terríveis, fez-se o que estava escrito nas estrelas há muito: uma intervenção pública no BES.

Só pecou por tardia, pois pelo caminho muito valor se destruiu, e muita instabilidade desnecessária se gerou.

 

A solução "banco bom/banco mau" é inteligente, e pode salvar muita coisa.

Proteje bem os depositantes, as empresas-clientes, os trabalhadores do BES.

Tambem protege os obrigacionistas, e quem tem fundos geridos pelo banco, desde que sem ligações aos outros negócios contaminados.

Isso é bom, pois nenhum desses grupos de pessoas foi responsável pela desgraça que derreteu o banco.

 

Quanto aos accionistas, a solução penaliza-os muito, embora talvez em excesso no caso de serem pequenos.

Percebe-se que se quis castigar e punir os grandes, sejam do Grupo Espírito Santo, franceses, brasileiros ou portugueses.

Todos perdem fortunas colossais. 

Mas, e os pequenos accionistas, que não tiveram responsabilidades na gestão?

Também perdem, e sem culpa, mas esse é o risco de quem compra acções, e elas já valiam muito pouco na sexta-feira.

Quem não vendeu, perde tudo, e pode recuperar muito pouco no futuro. 

 

Para já, evitou-se uma crise gravíssima, e evitou-se o descalabro na economia.

Foi o Estado que o fez, pois mais ninguém o podia fazer.

É para isso que existe o Estado, e é por isso que é importante a sua presença.

A economia privada, só por si, não chega.

Quando a crise é sistémica, o Estado tem de intervir, por muito que isso custe aos liberais e aos críticos. 

 

Mas, não devemos esquecer o que se passou, nem os erros que foram cometidos pelo Banco de Portugal nesta crise.

Só apontar o dedo aos "fraudulentos" não é suficiente.

É evidente que devem ser feitas investigações, acusações, e julgamentos em tribunal.

É assim com todos os crimes, e se existiram crimes têm de ser julgados os seus responsáveis.

 

Só que isso não absolve o supervisor das suas falhas.

É absurdo que se tenha andado a aplicar uma estratégia desde Setembro de 2013, tentando "isolar" o BES dos problemas do Ges, para agora descobrir que isso foi impossível.

Quanta inocência...

É absurdo que se tenha aprovado um aumento de capital em Junho, ainda liderado pela anterior administração, sabendo já que essa mesma administração iria ser destituída.

Que desplante...

É absurdo que se tenha destituído uma administração e se tenha demorado semanas a nomear uma nova.

Que loucura...

O vazio de poder que o Estado criou no BES que abriu a caixa de Pandora, e tudo se descontrolou.

 

Em conclusão, foram meses de erros do supervisor, que ajudaram ao caos sem o parar.

Que se consiga agora salvar a situação, é bom e deve ser aplaudido.

Porém, a gestão desta crise foi um desastre até à salvação final, e Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, sai deste imbróglio com muito menos força do que no passado.  

O regulador não pode ser um avozinho simpático que repreende os netos, e que depois se surpreende que eles sejam muito mal comportados.

publicado por Domingos Amaral às 12:07 | link do post | comentar | ver comentários (2)
 

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