A manif´s não mudam nada, porque os feitores da quinta não mandam nada.

Em primeiro lugar, e a propósito da manifestação de sábado, deixem-me dizer que para mim foi ligeiramente decepcionante. Havendo tanta gente contra a política do Governo, e tendo esta manifestação o apoio de alguns partidos de esquerda e da CGTP, eu esperava muito mais gente nas ruas.

A olho, pelo que vi na televisão, não acredito muito nas estimativas que apontam para mais de um milhão de pessoas, o número deve ter sido metade desse valor, e já contando com todas as cidades portugueses onde existiram manifestações.

Do ponto de vista político, esta manifestação de 2 de Março não aqueceu nem arrefeceu. Provavelmente, quem já era contra o Governo e a troika assim continua, e quem é a favor também. A multidão, a cantar, a empunhar cartazes e entoar frases, não foi suficientemente grande para ser uma força política capaz de alterar o rumo e a permanência do Governo.

No entanto, é importante relembrar que as manifestações, normalmente, não produzem efeitos imediatos. A manifestação de 15 de Setembro do ano passado foi uma excepção. Nesse caso, havia uma decisão específica que os portugueses rejeitaram (as alterações na TSU) e a manifestação teve resultados, pois o Governo recuou. 

No sábado, não havia nenhum tema específico que unisse as pessoas, e por isso foi apenas mais uma manifestação. O seu valor é somente simbólico, mostra que existe muita insatisfação no país, há muito cansaço e desespero, embora ainda não o suficiente para mobilizar mais pessoas do que as que foram.

É claro que, manifestações destas, se forem permanentes, provocam muito desgaste ao Governo, e portanto há um efeito de vaga que pode começar a criar-se cada vez mais. No entanto, não me parece que a vaga seja ainda um tsunami que atire abaixo Passos Coelho e Gaspar.  

De certa forma, podemos dizer que Portugal está numa paralisia perigosa. A grande maioria dos portugueses não aprova as políticas do Governo, mas ainda não há suficientes portugueses que desejam uma mudança política imediata.

As pessoas não vêem alternativas políticas e sobretudo não vêem como é possível um Governo português, qualquer que ele seja e qualquer que seja a sua cor, alterar a política europeia que a troika implementa.

Um dos mais graves sinais desta crise que Portugal e a Europa atravessam é precisamente esse: os políticos nacionais são odiados porque são obrigados a implementar ordens europeias, e portanto perdem eleições, mas a política geral não muda, pois essa é decidida em Bruxelas ou Berlim. 

Na verdade, Passos, Rajoy, Samaras, Bersani e muitos outros, não passam de meros feitores das quintas. Os patrões estão em Bruxelas e em Berlim, e mandam os feitores das quintas cumprir ordens e eles cumprem. São odiados por isso, mas a verdade é que não passam de feitores ou caseiros, e não mandam nada.

É claro que podemos mudar os feitores e os caseiros, quando estivermos fartos deles, mas é um alívio momentâneo. O que é verdadeiramente importante, continuará infelizmente igual. A Europa é que manda, o resto é conversa da treta. 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:43 | link do post